Crítica- O Abutre

por Luis Capucci

O jornalismo, assim como qualquer outro ramo profissional no mundo, traz como elemento essencial o humanismo. Infelizmente, não é isso que vemos quando abrimos o jornal de manhã ou ligamos a TV em um noticiário. Esses programas ditos jornalísticos, ao invés de atraírem o público pela empatia e propagar a igualdade entre as pessoas, preferem mostrar o grotesco, o monstruoso e disseminar o ódio. É dessa mídia deturpada que fala “O Abutre”, ao mesmo tempo também em que funciona como um estudo de personagem perturbador sobre um psicopata.

 Escrito e dirigido por Dan Gilroy, o filme conta a história de Louis Bloom (Jake Gyllenhaal), um jovem que tem dificuldades para encontrar um emprego formal, mas que tem uma chance no submundo do “jornalismo” criminal de Los Angeles. Bloom passa então a procurar crimes e acidentes chocantes durante a madrugada, para na manhã seguinte vender suas imagens para alguma emissora que se interesse.

 O Louis criado por Gyllenhaal é assustador. Ele é empreendedor e acredita veementemente na ideia da meritocracia, parecendo tirar seus discursos vazios de livros de autoajuda. Além disso, o personagem possui uma moral deturpada, é machista e não parece dar valor à vida humana, como prova a cena em que ele arrasta um corpo para criar um ângulo melhor de câmera ou aquela em que ele não presta ajuda a um ferido apenas para continuar filmando. Jake Gyllenhaal, em outro grande trabalho, chama atenção pela entrega absoluta ao papel. O ator claramente emagreceu para o filme e demonstra a psicopatia do personagem através de seus olhos arregalados que raramente piscam e de sua fala rápida e incessante.

 Rene Russo, por sua vez, interpreta Nina, uma veterana dos noticiários da televisão. A atriz compõe a personagem como a mídia sensacionalista encarnada, uma vez que ela mostra pouco interesse em produzir notícias, demonstrando ter mais vontade de criar um espetáculo, como prova a sequência em que ela dita aos âncoras quais palavras eles devem dizer para manter o interesse do público.

 Muito do longa se desenvolve através da relação entre Louis e Nina. Enquanto no começo ela soa forçada e desconfortável para a mulher, aos poucos ela vai demonstrando uma admiração pelo jovem, a ponto de no ato final  os dois parecerem estar apaixonados. Gilroy usa essa interação entre eles para retratar a relação deturpada que existe entre os psicopatas como Louis e a imprensa sensacionalista, uma vez que ela perde a função se não existirem monstros para filmar e produzir suas notícias.

 Dan Gilroy também merece elogios pela estrutura de roteiro que cria. No início, Louis apenas filma o que acontece, mas um tempo depois passa a interferir nas cenas em que encontra, até que tudo atinge outro patamar no assustador ato final do longa. Muito dessa tensão se deve à ótima montagem de John Gilroy, que também é irmão do diretor, e se destaca principalmente nas sequências finais do plano de Louis.

 Com isso, “O Abutre” faz uma poderosa crítica ao sensacionalismo que se produz, infelizmente, em noticiários e jornais do mundo todo. O que as pessoas devem entender é que o verdadeiro jornalismo torna nosso mundo melhor, enquanto a monstruosidade que é praticada pelos personagens desse filme conversa apenas com o lado mais feio da natureza humana.

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